Tuesday, November 29, 2005
à noite (última prancha)

Guião:
Gosto das minhas botas, habituadas a calcorrear as ruas perdidas da cidade. Botas vagabundas que não gostam de estar paradas e conhecem os caminhos de noite e nesta, trouxeram-me a este jardim e a moleza a este banco.
O pensamento dispersa-se, até olhar para o relógio e ver que são duas da manhã.
Levantei-me para regressar a casa. De manhã outro dia de trabalho me esperava no escritório.
Talvez amanhã, em sinal de liberdade, a marca das minhas botas se note ainda junto ao banco de jardim.
FIM
Monday, November 28, 2005
à noite (segunda prancha)

Guião:
O rio continua a correr, sei-o, porque a lua lhe vai dando pequenos beijos que brilham. Com a ponta do cigarro, acendi outro. Sempre a fumar.
Aliás, o que tem sido a minha vida até aqui? Fumar, beber e pagar para ter uns minutos de prazer. Acender um charro, passeando na noite uma luz cor de fogo, queimando a solidão, sentir uma alegria transbordante, por atravessar as ruas da cidade, sem a polícia me apanhar.
Encharcar o corpo e a memória em cerveja e desabafar.
Escarrar tudo e todos os que me estão atravessados na garganta, filosofando sobre coisas, que às vezes, também são incompreensíveis para mim.
E essas gajas, onde morre o meu desejo, de um dia ter alguém que gostasse de mim, alguém a quem amar...